Bate-Bola | Da redação | 25/05/2016 18h11

André Volnei

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Advogado, acadêmico de Educação Física e proprietário da única escola de patinação artística de MS luta para difundir a modalidade.

A paixão pela patinação artística chegou cedo, ainda aos 12 anos, na cidade gaúcha de Santa Rosa, onde nasceu. Incentivado por amigos e sem maiores pretensões, o advogado André Volnei da Silva, hoje radicado em Mato Grosso do Sul, chegou a ser tricampeão gaúcho da modalidade e, atualmente, é proprietário da única escola de patinação em Mato Grosso do Sul.

Apesar do currículo, garante ele, sua maior conquista é outra: “alegria e satisfação sempre foi ver refletido nos meus alunos o empenho, a dedicação e consequentemente os frutos colhidos, derivados do esforço e empenho de cada um”.

Em entrevista ao Esporte Ágil, o patinador, que também é acadêmico de Educação Física, fala sobre sua carreira, conquistas, decepções e sobre a modalidade que escolheu para sua vida, que, segundo ele, ainda sofre com o preceonceito de quem não conhece. “Infelizmente a falta de conhecimento de grande parte da população, faz com que, numa visão extremamente errônea, os levem a crer que os patins estragam as quadras esportivas”, lamenta.

E apesar dos tombos, que não são poucos, os benefícios da patinação são ainda maiores. “São tombos que tiramos de letra, levantamos e já estamos prontos pra outro. Durante a prática, trabalhamos diversas formas de desenvolvimento corporal que utilizamos no dia a dia fora das aulas, como alongamento e elasticidade, musicalidade, desenvolvimento sensório motor e cognitivo”, enumra.

Confira a entrevista:

Como começou seu envolvimento com a patinação?

A patinação artística entrou muito cedo em minha vida, por volta dos 12 anos de idade. Sou natural de uma cidade relativamente pequena, com aproximadamente 70.000 habitantes, mas que tinha como tradição a patinação artística. Houve uma época, em que num mesmo período a cidade teve até três escolas de patinação, com cerca de 300 alunos ao total. Para uma cidade de médio porte, ter 300 patinadores assíduos e regularmente inscritos em escolas é muito, quem dirá para uma cidade pequena. No início comecei porque vários amigos faziam, mas depois eles foram parando e eu continuei, cada vez mais apaixonado, e até hoje continuo apaixonado por essa prática linda e deliciosa que é a patinação artística.

Quais suas principais conquistas no esporte? E as maiores decepções?

Acredito que uma das minhas maiores conquistas foi ter tido uma aluna como segunda colocada no Campeonato Brasileiro. Já fui tri campeão gaúcho, mas a minha maior alegria e satisfação sempre foi ver refletido nos meus alunos, o empenho, a dedicação e consequentemente os frutos colhidos, derivados do esforço e empenho de cada um. Sempre amei dar aula, transmitir um pouco do que aprendi ao longo dos anos, e poder ver e sentir, que você contribuiu para um aluno seu realizar um sonho é extremamente gratificante. Não tem preço. Quanto as decepções, não tenho muitas, porque sempre me dediquei ao máximo e dentro dos limites do “paitrocinio”, que é o apoio financeiro dos pais pela falta de outros, bati asas e realizei meus sonhos e continuo realizando. Meus pais sempre foram o máximo. Uma questão que ocorria desde quando competia, e que continuo sentindo até hoje, é o preconceito que enfrentamos quando buscamos espaços para patinar, dar aula, ou tentar formar equipes, atletas, projetos, etc. Infelizmente a falta de conhecimento de grande parte da população, faz com que, numa visão extremamente errônea, os levem a crer que os patins estragam as quadras esportivas. Os patins quad específicos para a modalidade de patinação artística, são projetados e desenvolvidos, com matéria prima importada para uma prática num piso com o mínimo de condições necessárias, para a segurança e desenvolvimento dos praticantes, de preferência de madeira, o que alivia na hora dos tombos e dos exercícios. Sim, porque a gente cai, e muito (risos). Mas são tombos que tiramos de letra, levantamos e já estamos prontos pra outro. Voltando a questão de danificar as quadras, temos até laudos que comprovam que os patins em momento algum danificam os pisos, seja de madeira ou concreto, mas infelizmente, a falta de conhecimento e pré conceitos, continuam a permear e dificultar o crescimento e desenvolvimento da patinação em nossa cidade e estado. Outra questão também é a falta de incentivo de órgãos públicos e privados aqui na cidade. Já procurei a administração municipal mais de uma vez com um projeto para beneficiar crianças de baixa renda, mas há sempre uma burocratização tão grande e uma falta de vontade que vamos lutando da maneira que conseguimos, através de nossos próprios meios.

É um esporte caro para se praticar?

Honestamente não considero um esporte caro de ser praticado, em virtude do que vejo na prática de outros esportes. No início o patinador se assusta um pouco quando vai comprar um patins de boa qualidade, mas em vista da sua durabilidade e tempo que você utilizará o equipamento, ele acaba se tornando mais acessível que a grande maioria dos esportes. Já quanto a se tornar um profissional, muda um pouco o quadro. São necessários gastos com aulas particulares, aprimoramento com técnicos de outros lugares para complementar o aprendizado, locação de espaço para treinos, um equipamento de melhor qualidade e tudo isso acaba deixando um pouco mais alto o investimento. Mas uma das maiores dificuldades que vejo ao longo do trabalho nem é a questão financeira, mas sim o empenho individual, pois as vezes desejamos nos tornar profissionais, mas para isso é necessário de um treino de pelo menos cinco horas diárias entre aulas de patinação, fortalecimento muscular e aulas de dança.

Qual a realidade da patinação em Mato Grosso do Sul? Como os praticantes se organizam?

No nosso estado, a única escola que trabalha com patinação artística é a nossa. Temos o desejo de poder levar a outras cidades a nossa arte, e quem sabe, agora aos poucos, consigamos realizar esse sonho. Penso em um futuro próximo, conseguir montar uma filial de nossa escola na cidade de Dourados, quem sabe no próximo ano esse projeto já saia do papel. Hoje estamos com alunos das mais diversas idades, e isso faz com que a organização, enquanto não conseguirmos uma estrutura melhor de disponibilização de aulas, dê um pouco mais de trabalho. Mas Campo Grande tem sido muito boa comigo, e meus alunos são maravilhosos, trabalham juntos para crescermos juntos. Tenho alunos desde que comecei a dar aulas aqui a aproximadamente 7 anos, e outros que estão a menos de um mês, mas todos tem uma coisa em comum, a paixão pela patinação artística. No MS ainda não temos campeonatos, o que pretendemos mudar a partir do próximo ano, alterar essa realidade, pois começaremos a desenvolver torneios e campeonatos como forma de incentivar todos que começarem a patinar. Quando vamos participar de campeonatos, acabamos indo para outros estados mas isso é bem difícil devido aos altos custos. Já fomos duas vezes a SP. Na primeira vez fomos participar da 1ª fase do Campeonato da Liga Paulista de Patinação Artística, e da segunda vez fomos participar do Open Clubes de Patinação Artística realizado pela própria Liga Paulista. Trouxemos ao todo aproximadamente 30 medalhas, fomos muito bem. Esse ano de 2016, estaremos indo nos meses de outubro e novembro até a cidade de São Leopoldo no Rio Grande do Sul participar da Copa Mercosul de Patinação Artística, onde estarão participando patinadores de todos os países envolvidos no Mercosul. Vai ser muito patinador no mesmo lugar, e de várias nacionalidades. Poder proporcionar essa experiência aos meus alunos é mágico, interagir com outros costumes e outras culturas. Quanto ao apoio ainda sofremos um pouco, pois temos poucos espaços para treinos, nenhum incentivo público, e não nos referimos a valores, mas sim de apoio mesmo, espaços para treinos, divulgação da patinação artística e facilitação a outros praticantes de baixa renda, etc.

O que uma pessoa precisa para começar na modalidade?

Para uma pessoa começar a praticar patinação artística basta querer. Frequentemente chegam pais com seus filhos e dizem que o sonho deles era patinar quando criança. Eu incentivo além dos filhos os pais também. Não tem idade pra realizarmos nossos sonhos e patinação é para todas as idades a partir dos quatro anos. Atualmente possuo alguns patins para empréstimo para meus alunos começar a praticar até chegar o equipamento individual sem nenhuma cobrança adicional na mensalidade. É uma forma de facilitar o desenvolvimento da patinação no nosso estado. Segundo estudos realizados, a patinação artística está entre os quatro esportes mais completos existentes por trabalharem o corpo como um todo, e sendo assim, faz bem para todos.

Há contraindicações para a prática da patinação?

As contraindicações são mais específicas e particulares, no entanto sabemos que devido ao risco de queda, pessoas com quadros de hérnias de disco, dependendo do grau de evolução e quadros álgicos, são desaconselhadas por seus médicos. No entanto, não há uma contraindicação generalizada, vai mais de recomendações médicas caso a caso.

Para quem o esporte é indicado?

A patinação artística é recomendada para crianças e adultos a partir dos 4 anos de idade, homens e mulheres, sem distinções. Durante a prática, trabalhamos diversas formas de desenvolvimento corporal que utilizamos no dia a dia fora das aulas, como alongamento e elasticidade, musicalidade, desenvolvimento sensório motor e cognitivo, equilíbrio, fortalecimento e definição muscular através de exercícios isométricos e funcionais com o peso do próprio corpo, respiração, desenvolvimento direcionado de musculaturas de sustentação como abdominais e lombares, sem contar que com uma aula puxada, você chega a perder 500 calorias em uma hora auxiliando na perda de peso.

Quais os projetos que podemos esperar da patinação artística em nosso estado?

Estamos trabalhando para alavancar de vez a patinação artística em nosso estado. Dentre os projetos, está um workshop que estamos realizando nos próximos dias 28 e 29 de maio com o técnico Léo Bengochea de Porto Alegre. Leo é técnico do atleta Marcel Sturmer, Campeão dos Jogos Mundiais na cidade de Cali – Colombia, e tetra-campeão pan-americano de patinação artística. Vale lembrar que esse título é inédito nos jogos panamericamos, pois não existe nenhum outro atleta, em qualquer uma das modalidades que seja tetra campeão pan-americano em jogos consecutivos. Além de técnico, atualmente o Leo é também presidente da Federação Gaúcha de Patinagem. Esse projeto, faz parte de um processo de preparação dos alunos que irão participar da Copa Mercosul nos meses de outubro e novembro no Rio Grande do Sul. Temos uma aluna que já foi campeã da Copa Mercosul em anos anteriores e que pretende voltar para repetir a medalha de primeiro lugar. Para o mês de agosto estaremos desenvolvendo a 2ª Mostra Criativa de Patinação Artística, onde cada aluno, utilizando de sua desenvoltura e criatividade irá se apresentar como forma de participação. Cada aluno fica responsável pela sua música, coreografia e roupa. No mês de novembro faremos uma grande apresentação com a participação de todos os alunos para encerrar as nossas atividades desse ano. Continuamos as aulas normalmente até véspera de Natal, mas é a época que vários alunos já começam a viajar para o fim de ano. Temos alguns projetos em análise e desenvolvimento, mas por enquanto ainda são surpresa. Esperamos em breve apresentar a todos do estado e quem sabe de outros lugares também, o que vem por ai.

Qual a mensagem você gostaria de deixar a quem se interessar?

Que venham todos patinar. Patinação não tem idade nem sexo, basta querer e ter força de vontade. Convido a todos que se interessarem a fazer uma aula experimental e entrar para nossa equipe. Serão todos muito bem vindos.

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